domingo, 20 de janeiro de 2019

4 anos de O Egito negro de Cheikh Anta Diop: reflexos na sala de aula

Cheikh Anta Diop comprovou cientificamente a origem negra dos antigos egípcios

Hoje, dia 20 de janeiro de 2019, a página O Egito negro de Cheikh Anta Diop completa 4 anos. A ideia da página surgiu após a conclusão do curso de Especialização em História e Cultura Afro-brasileira e Africana em 2013, com o Trabalho de Conclusão de Curso intitulado O papel do racismo na construção do Egito branco, sob a orientação do professor Ricardo Matheus Benedicto.

Esse curso foi um divisor de águas na minha vida acadêmica e profissional, pois foi a partir dessa experiência que conheci o pesquisador senegalês Cheikh Anta Diop. Confesso que a princípio estranhei a perspectiva deste autor, mas conforme fui aprofundando o estudo consegui compreender a importância de suas pesquisas, tanto que ele foi a base para o meu trabalho final.

Sempre me interessei pelo Egito antigo e durante a graduação em História pelo estudo do racismo e suas consequências na sociedade, além de me interessar pelas Africanidades a partir da lei federal 10.639 de 2003. A partir de tudo isso, surgiu a ideia do TCC, onde na primeira parte é apresentado o conhecimento que os egípcios possuíam nas mais diversas áreas do conhecimento, na segunda parte é apresentado como o racismo foi responsável pelo embranquecimento do Egito, na terceira parte é apresentada uma tentativa de reafricanizar o Egito.

 Apesar de a pesquisa ter se encerrado no trabalho de conclusão de curso, a busca por novos textos de Cheikh Anta Diop não se encerrou, mas foi na sala de aula que este trabalhou reverberou de forma mais intensa.

Mesmo com as leis federais 10.639/03 e 11.645/08 (a primeira lei trata da obrigatoriedade da temática africana e afro-brasileira nos currículos escolares e a segunda lei permanece com a obrigatoriedade da cultura afro-brasileira e insere a temática indígena), as temáticas africanas, afro-brasileiras e indígenas não receberam a devida abordagem, apesar do crescimento das discussões acadêmicas e dos materiais produzidos.

Quando chega a hora de trabalhar com a civilização egípcia na escola, que ocorre no 6º ano do Ensino Fundamental e na 1ª série do Ensino Médio, não há a abordagem dos autores africanos sobre esta civilização. Uma abordagem afrocentrada do Egito fica ainda muito dependente da preocupação do professor, pois nos materiais didáticos ainda não existe essa discussão.

Por isso que a pesquisa realizada reverberou de forma mais intensa em meu trabalho docente, pois dou uma aula sobre Cheikh Anta Diop e suas pesquisas, além de pedir pesquisas para os alunos sobre quem foi este autor senegalês que fez tanto pelo estudo do Egito no século XX. Isso sem contar nos trabalhos sobre a Consciência Negra, onde um dos temas que são apresentados pelos alunos é a Intelectualidade Afro-brasileira e Africana, pois geralmente esse tema não é abordado quando se pretende falar da população negra na escola.

São com perspectivas assim que a visão que os alunos possuem da África vai mudando aos poucos e uma Educação antirracista se torna algo viável e visível no cotidiano escolar. Mas ainda falta muita coisa, como o apoio da escola como um todo, pois esta temática ainda fica restrita ao professor preocupado com essa mudança de perspectiva e a falta de tradução de autores africanos, o que dificulta o maior alcance das ideias africanas.

 Mas as mudanças estão ocorrendo, como a tradução das obras de autores africanos do continente e da diáspora por coletivos negros de forma autônoma, sem necessariamente passar por uma grande editora... isso nos mostra que a palavra chave é aquilombar-se, tanto para as traduções, quanto para a sala de aula. Sigamos!

domingo, 19 de julho de 2015

Esfinge

Presume-se que o perfil da esfinge, tipicamente negróide, represente o faraó Quéfren (cerca de -2600, IV dinastia). O perfil não é nem helênico nem semita: é bantu.

Brechtiana (Em memória de Abdias), de Nei Lopes

BRECHTIANA
(Em memória de Abdias)
Primeiro,
Usurparam a matemática
A medicina, a arquitetura
A filosofia, a religiosidade, a arte
Dizendo tê-las criado
À sua imagem e semelhança.

Depois,
Separaram faraós e pirâmides
Do contexto africano -
Pois africanos não seriam capazes
De tanta inventiva e tanto avanço.
Não satisfeitos, disseram
Que nossos ancestrais tinham vindo de longe
De uma Ásia estranha
Para invadir a África
Desalojar os autóctones
Bosquímanos e hotentotes.
E escreveram a História ao seu modo.
Chamando nações de "tribos"
Reis de "régulos"
Línguas de "dialetos".
Aí,
Lançaram a culpa da escravidão
Na ambição das próprias vítimas
E debitaram o racismo
Na nossa pobre conta.
Então,
Reservaram para nós
Os lugares mais sórdidos
As ocupações mais degradantes
Os papéis mais sujos
E nos disseram:
- Riam! Dancem! Toquem!
Cantem! Corram! Joguem!
E nós rimos, dançamos, tocamos
Cantamos, corremos, jogamos.
Agora, chega!
(Nei Lopes)

Ancestralidade

Ancestralidade!
Imagem retirada da página do facebook "Global African Presence".

Tera Neter

Representação proto-histórica de Tera-Neter, um nobre negro da raça dos Anu, primeiros habitantes do Egito.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Texto "Origem dos antigos egípcios", de Cheikh Anta Diop




Texto "Origem dos antigos egípcios", de Cheikh Anta Diop.
Este texto está presente no volume 2 da Coleção História Geral da África, que tem como editor Gamal Mokhtar.

Elizabeth Taylor e a perpetuação do Egito branco



Essa é a primeira imagem da seção "Apropriação cultural" e pretendo problematizar a questão do Egito branco, tão presente nas produções cinematográficas até os dias atuais.
Elizabeth Taylor no filme Cléopatra, de 1963.
A atriz se eternizou no papel da rainha egípcia, porém, percebemos o problema em representar os antigos egípcios como brancos.
O resultado dessa apropriação cultural pode ser percebida em vários filmes e novelas sobre o Egito antigo, pois a representação negra é praticamente inexistente nesse tipo de produção.